sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Os jovens e a tecnologia

Para os jovens, o mundo virtual é um espaço de expressão e descoberta. Mas é preciso orientá-los a reconhecer e a evitar os riscos da internet.

 
"SEMPRE LIGADA Ao abrir canais de contato, a tecnologia torna-se indispensável ao cotidiano do jovem


No que diz respeito à rede mundial de computadores, os especialistas apontam a dificuldade dos jovens para entender que é preciso se comprometer com as ações realizadas no mundo virtual. "Muitos pensam que o ciberespaço não tem efeito algum sobre o mundo real", explica o psicólogo Tiago Corbisier Matheus, do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, e autor de livros sobre o assunto. Quanto à recusa de se responsabilizar pelas próprias ações, nada de novo: é característica da adolescência. Entretanto, embora não tenha mudado o comportamento dos jovens, a tecnologia trouxe novos espaços e ferramentas para as manifestações típicas dessa fase da vida. A internet e os games, por exemplo, permitem a experimentação de papéis sociais, ampliam o leque de relações interpessoais e o contato com informações, fornecendo elementos para a formação da identidade. Para pais e professores, esses recursos são muito novos, o que inibe a exploração. No entanto, é preciso conhecê-los para ajudar a moçada a construir uma relação saudável com eles.
Para os adolescentes, a tecnologia exerce fascínio porque é uma das poucas áreas em que eles têm desempenho melhor que os adultos. "Eles são mais disponíveis para entrar em contato com o novo e se arriscam a testar coisas que as gerações anteriores olham com curiosidade, mas têm receio de não aprender ou medo de se sentir incapazes e ultrapassadas", ressalta Matheus. Os adolescentes podem eleger ídolos, criar culturas próprias distantes da figura de autoridade dos pais e familiares e construir relacionamentos com certo distanciamento e liberdade (essencial na busca da autonomia que caracteriza a puberdade).

"Para os jovens, o mundo virtual é um espaço de expressão e descoberta. Mas é preciso orientá-los a reconhecer e a evitar os riscos da internet".

"A importância de assinalar o limite entre público e privado".

"Para os jovens, o mundo virtual é um espaço de expressão e descoberta. Mas é preciso orientá-los a reconhecer e a evitar os riscos da internet".

 "Amigo virtual deve ser só mais um no círculo de amizades do jovem".

 Os avanços tecnológicos também trouxeram uma nova dinâmica para as relações sociais. Hoje, é muito comum encontrar adolescentes que namorem a distância ou mantenham contatos estritamente virtuais - alguns baseados no companheirismo e na confiança, como indica a fala de Camila*, 16 anos (leia o destaque na página anterior). "Em certo sentido, as amizades pela internet têm a mesma função dos amigos imaginários na infância, especialmente para os mais tímidos", argumenta Matheus. "Eles acabam encontrando em uma pessoa distante as características que esperam de alguém com quem gostariam de se relacionar."

Por fim, vale ponderar um aspecto da vida contemporânea turbinado fortemente pelas tecnologias: o imediatismo. A possibilidade de encontrar tudo ao alcance de um clique, de falar com qualquer pessoa instantaneamente, de baixar vídeos e músicas em banda larga pode dar a impressão - falsa - de que não há espera nesse mundo. "Hoje, os jovens estão cada vez menos reflexivos. Imersos na tela do computador, eles não conseguem parar para pensar sobre a sociedade ou si mesmos. Há sempre algo para ver ou fazer ou alguém com quem falar", argumenta Vanessa. Mas os obstáculos reais, que não podem ser resolvidos aqui e agora, continuam surgindo. Vários deles aparecem na escola, já que aprender requer tempo e dedicação.

Dessa forma, ajudar a garotada a lidar com a impossibilidade de não alcançar todos os desejos rapidamente torna-se ainda mais importante no mundo atual. Enfatizar que grandes projetos (e mesmo pequenos avanços na construção da personalidade) só se concretizam com esforço e persistência é mais um dos desafios na relação dos jovens com o mundo virtual. "Refletir é a melhor forma que o ser humano dispõe para reorganizar seus conhecimentos e entender as próprias emoções", finaliza Vanessa. Essa ação, por enquanto, a tecnologia ainda não conseguiu substituir.

 

Reportagem na íntegra, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/jovens-teconologia-602331.shtml?page=0 

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